
Não me lembro de nenhuma situação em que tive que lidar com perda, acho que a última dor, dor de perda mesmo foi quando a minha amiguinha da primeira série veio a falecer por mera tragédia e considerada falta de sorte. Isso foi o que? creio que em meados de 2000 ou 2001, ambos tinham a mesma idade e estavam aproveitando as férias de dezembro, de verão... eu era muito nova para entender o que era perder, perder alguém, um amigo, uma parte de mim, quem sabe. Pois é, passaram dez anos desde então e ainda não tive que lidar com nenhuma perda, não mesmo. Houve falecimentos de parentes, mas não tão próximos ou tão queridos ou que ao menos me pudessem deixar magoada por nunca mais poder ver ou sentir a presença. E como a vida tem começo, meio e fim, como a morte sempre chega sem hora marcada e assim é o nosso ciclo, a nossa existência, foi assim que aconteceu com ele... Ele sabia, eu sabia e todos nós aqui sabiámos disso, mas como evitar? Não tem como, não há como escapar do fim, ainda mais da vida. Conta a minha mãe, que quando ele chegou, bem pequenininho assim, peludinho e indefeso, ela estava no banheiro penteado os cabelos, e com a sua mania desde pequeno, ele olhou pela porta procurando por alguém, procurando alguém para quem pudesse abanar o rabo e mostrar o quanto estava feliz. Era desse jeito mesmo que ele fazia, até os dias em que suas dificuldades permitiram... com muita esforço, ele fez isso na semana passada. Foram dezessete anos, desde mil novencentos e noventa e três, para um simples ser como ele, isso é muito para a sua natureza e eu me pergunto: como é que ele aguentou todo esse tempo? Eu não sei, dizem que era o amor que o sustentava vivo, o amor que ele tinha por nós e nós por ele. Essas duas últimas semanas foram as piores, eu digo por um lado, pois era aparente o esforço para abanar o rabinho, para chegar até porta e encontrar alguém, um esforço luta contra a própria velhice, mas ainda assim tivemos nossos últimos momentos... Houve momentos que nem tudo foi tão bom, onde a bagunça nos tirava do sério e que o timbre do latido era doído aos nossos ouvidos, e a teimosia de uma criança era insistente em um cachorro. Os sustos que tivemos pensando que seria a última vez junto com os risos por saber que aquela era a primeira de inúmeras vezes que eles nos daria um susto desse! As fugas, as bagunças, os ciúmes por ter um outro ser da quatro patas tomando posse das suas coisinhas, do seu cantinho... E os passarinhos que não podiam ficar sossegados nas gaiolas, as galinhas que não tinham sossego no quintal e os gatos que tanto o aterrorizavam! Sem falar nas crianças que ele não gostava... Grande cachorro. E quando as situações profissionais pareciam afetar o pequeno que no quintal corria, como é que pode você sentir o que estava de errado com a gente? E as lambidas que 'curavam' os machucados... Não é só porque você se foi que estou fazendo um grande texto, não é porque depois da perda é que vou dar valor, é só quero lembrar o que eu passei com você, porque praticamente, você cresceu comigo! Chegou no ano em que eu nasci, cresceu comigo, brincou comigo e sobreviveu várias coisas comigo! Até os meus namorados você conheceu! Você tinha a minha idade e fico admirada por você ter alcançado essa idade. Há muitas coisas a qual passamos juntos, momentos para serem lembrados e lembranças que ficaram para sempre. É com os olhos beirando de lágrimas que eu escrevo tudo isso, que agradeço a Deus por ter tido você como meu animalzinho de estimação e que sinto a sua perda. Mas saiba que você foi bem mais que um cachorro pra nós e agradecemos muito a Deus pelo tempo de vida que você teve. Ah, cãozinho... descanse em paz.
Em consideração a você é que lembraremos do cachorro sempre latindo, abanando o rabo e querendo fugir! Lembraremos dos momentos bons e a cena de ontem... será guardada e pequena entre as outras que são maiores e de grande valor. Ah, você sabe...
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